Saulo Rocha
PSICOLOGIA E OLIMPÍADAS: A PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA DE ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO
Atualizado: 20 de nov. de 2020

Os jogos Olímpicos 2016, conhecidos oficialmente como os Jogos da 36º Olimpíada, realizada no Rio de Janeiro, foi um evento poliesportivo que reuniu os melhores atletas mundiais em um único lugar para participarem de uma das maiores competições do planeta. Cerca de 200 nações transitaram no território brasileiro, com mais de 10.500 atletas, divididos em quarenta e duas modalidades esportivas, nestes dezessete dias de competição. E o que pudemos conferir foram cenas de encantar os olhos e acelerar o coração.
O que se apresentou foi o resultado de anos de preparação e abstinência, esforço e dor, resumidos em algumas apresentações. Vimos, marcados nos corpos dos atletas, o preparo físico, o afinco em se perfilar para a modalidade escolhida, horas de treino e dedicação e muita determinação. E dentre os destaques dos jogos, algo vem sendo apontado pelos atletas, com grande visibilidade na mídia, que é a eficácia do acompanhamento psicológico para atletas de alto desempenho.
A intensa rotina de treinos, disciplina pessoal e o alto nível de estresse pela cobrança em alcançar o ouro Olímpico, leva muitos atletas profissionais a quadros que abalam o seu desempenho e levam até a depressão. Diversos medalhistas olímpicos contaram histórias de superação em decorrência de depressões ocasionadas por frustrações após anos de dedicação.
Após receber a medalha de prata na ginastica no solo, Diego Hypólito descreveu sua trajetória de dificuldades e como lidou com a depressão até alcançar o resultado esperado neste ano. “Foi muito difícil superar e acreditar que eu poderia estar aqui. Foram dez cirurgias, duas edições de Jogos Olímpicos caindo, foi a depressão que eu enfrentei. Quando as pessoas falavam em depressão, eu pensava que não era real”, diz. Hypólito conta ainda que conseguiu o resultado favorável após três anos de terapia, fortalecendo seu lado emocional, trabalhando questões conflitivas e voltando a acreditar em si.
A medalhista de ouro no Judô, Rafaela Silva, afirmou que enfrentou a depressão depois de perder nas oitavas de final nas Olímpiadas de Londres, quando era favorita ao pódio. Neste episódio teve que ouvir insultos e xingamentos racistas dos internautas descontentes com a derrota, além da falta de apoio familiar. Graças ao trabalho realizado pela psicóloga Luciana Castelo Branco, ela pode trabalhar a concentração e foco nos treinamentos, fortalecer a crença em si e em seu potencial e ter determinação para não desistir quando os pensamentos negativos surgiam.
Em outro depoimento, os medalhistas olímpicos que cravaram o ouro no vôlei de praia, Bruno Schmidt e Alison Cerutti afirmaram respectivamente: "Muita coisa passa pela cabeça. O jogo consumiu muito a gente, falei para o Alison que a gente tinha que passar por essa situação, tivemos que buscar força e energia para conter a volta deles ao jogo”; "Não é fácil levar uma virada dessas e temos trabalhado há anos com um psicólogo por isso. Qualquer outro time que tivesse levado uma virada daquela teria se abalado. Passou um filme na cabeça depois. É uma final olímpica!". Nestas frases, vemos como o treino psicológico deve estar tão afiado quanto o preparo físico e tático.
Em consonância a isto, percebemos que o principal objetivo do trabalho com atletas é justamente a otimização do rendimento, compreendendo os quatro pilares que auxiliam o resultado, são estes: o preparo físico, técnico, tático e psicológico. Estes elementos devem estar em equilíbrio entre si para que o máximo possa ser alcançado.
No ponto de vista psicológico, a preparação se dá com o desenvolvimento dos processos e estados psíquicos, como o pensamento, humor, percepção de si e do outro, motivação, resistência ao fracasso, e todos os componentes básicos para a regulação dos movimentos em jogo.
Com todos estes exemplos vemos que a técnica apenas não basta para o atleta ter um rendimento alto, e que o treinamento mental é fundamental, até porque, a exigência emocional atravessa todos estes movimentos. Desta forma, podemos dizer que o ouro também é nosso, com a desmitificação da psicologia. Com as Olimpíadas, pudemos ver que por trás de grandes superações, está presente o trabalho profícuo do profissional psicólogo.
Saulo Rocha – Psicólogo Clínico. CRP 02/16069.